Caso: O check-out precoce em Barcelona

Da Série Cuidado na Estrada!


Durante nove meses uma viagem por alguns vários dias para Espanha foi planejada. Uma gestação por assim dizer. Várias informações trocadas, reservas e compras antecipadas, logística estudada e compartilhada, tudo feito à quatro mãos. Para facilitar o entendimento e a fácil assimilação de todos os deslocamentos, fizemos em forma de tabela um calendário relacionando os dias e as cidades (quase um desenho). Tudo perfeito, certo? Errado. 

Tentamos prever um pouco dos dias, e levantei umas opções para a noite. Enumerei um destino para cada noite, no caso 3 baladinhas já que ficaríamos na cidade quatro dias, o último deles para viagem. Barcelona e Madri foram as cidades para as quais reservamos mais dias, pela representatividade e volume de programas a serem feitos. Imprimimos o nosso "guia" e pegamos o avião ruma à Europa. Meu guia, nesse trajeto Brasília-aeroporto-Lisboa-aeroporto-Barcelona, já se desintegrou no cosmos. Eu tinha a versão digital, mas estava com a Núbia e qualquer coisa era só falar com ela, certo? Errado.

Estávamos meio extasiadas com Barcelona, era muita coisa e tudo muito lindo. Não podemos ser julgadas. Tentamos realizar tudo que estava ao alcance, e conversando com ela sobre a programação noturna ela disse que só teríamos chance de conhecer dois lugares pois o terceiro dia era a nossa saída de Barcelona para Ibiza. Eu achei esquisito, mas como nem com o guia eu estava, não discuti muito. Afinal de contas eu já tinha mexido tanto no itinerário, já tinha pesquisado tanta coisa nas trocentas cidades, que seria normal ter confundido as bolas e não ter me atentado para o dia da saída. Até fiquei triste com a terceira balada sendo abortada.

Pois fizemos Barcelona no modo turbo em três dias, pense no desespero. Nesse terceiro dia, pasme, terceiro dia da viagem inteira, minhas pernas inteiras estavam latejando mais que joelho ralado no asfalto. E eu ainda pensava: "Nossa! Deixamos tantos dias para Barcelona, ela é grande mesmo!". E a corrida anti-fim-do-mundo continuou. No terceiro dia, antes de sairmos cedo, fizemos o check-out no hotel, saímos do quarto e guardamos as malas no guarda-volumes. Rodamos o possível, e o impossível, pela cidade e voltamos por volta das 21:30 para buscar as coisas e partir para o porto de Barcelona. 

Pegamos um táxi, descemos no porto e seguimos a fila da Baleária para impressão dos bilhetes (minha mala já estava mega pesada). Depois de umas horinhas de fila, nossa vez chegou e a moça imprimiu os bilhetes e disse:
- Mas a ida de vocês é só amanhã, ok?
Eu disse: 
- Não, é hoje!
A moça rebateu: 
- Não senhora, é amanhã à meia noite.
A Núbia se envolveu: 
- Não, é hoje!

Eu comecei a pensar naqueles milésimos de segundos: "Como assim? Mais essa? Mas os erros que fizemos eu já consertei lá do Brasil, não veio nada errado Pai do Céu!". Então a moça pegou um pincel atômico vermelho e circulou enfaticamente a data do dia seguinte impressa no raio do bilhete e atravessou pelo vidro do guichê, tipo assim "Engulam essa fora da minha fila, meninas".

Preciso descrever como foram os minutos e as horas seguintes? Nos sentamos nos banquinhos, arremessamos as malas no chão e fui resgatar nosso roteirinho e confirmar o caso. Realmente, nossa saída de Barcelona era sóóóóó no outro dia. O que a gente tava fazendo ali querendo se mandar precocemente? Eu também não sei. O pânico bateu quando nos demos conta que já era mais de 22h e estávamos com a diária daquela noite paga lá no hotel, mas ironicamente, sem teto. Minha noite na estação de trem na Alemanha passou como um flash pela minha cabeça. Bateu um pânico já que conseguir um quarto onde quer que fosse àquela hora, em plena alta estação da cidade e com mochilas pesando como blocos de concreto com alças seria pior que um treinamento de guerra na lama. Nossa única chance seria voltar no hotel e reparar o mal entendido, fomos para no orelhão tentar um contato com o hotel (sem sucesso). O pânico foi multiplicado por cem quando lembramos que mais cedo quando fizemos o check-out um rapaz entrou na recepção atrás de um quarto e o atendente disse que eles estavam lotados. Ptz! A gente tinha um quarto, a gente pagou o quarto e simplesmente o jogamos  pela janela. Zilhões de planos "B" passaram pela minha cabeça, alguns até ousados demais para serem escritos aqui, frutos do desespero.

Lá fomos nós com a parafernália tentar pegar um táxi na região, que já estava bem deserta de carros, de volta ao hotel. Chegamos na recepção e tentamos explicar o causo em espanhol, era outro recepcionista e ele não entendeu bulhufas. Eu, já no auge do desespero master, perguntei se ele falava inglês e engatei o discurso sem nem passar as marchas. Ele felizmente entendeu, e confirmou nosso check-out apenas no dia seguinte. Conseguiu o mesmo quarto e nos deu a chave. Ufa! O que foi isso produção?

Na tentativa de reaver nosso quarto, um brasileiro fazia o check-in e acompanhou o drama. Se tudo tivesse dado errado, certeza que a gente ia acabar pousando no quarto dele, com anuência ou não. 

O maior erro do caso, fora o desespero da Núbia em se mandar para Ibiza (deixa só o Tiago saber disso...), além do meu erro de não confirmar o dia da saída de fato, foi o tonto do recepcionista que "aceitou" nosso check-out mesmo vendo no sistema que só deveríamos sair no dia seguinte. Custava mencionar esse fato novo à história? E foi assim que a gente aprendeu que uma pessoa responsável deve ser convidada para a próxima viagem. 

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