Caso: A highway to hell de Santorini

Da Série Cuidado na Estrada!



Santorini é aquele arraso de lugar, pessoas bonitas, sofisticadas, usando branco, chapéus, óculos de sol, dezenas de maiôs gourmet, champagne na mão por toda ilha, certo? Errado! Um pedacinho dela não lembra em nada todo o glamour da ilha grega. Vou explicar...

Perto do horário de retornarmos ao navio, eu e Glenda fomos bem serelepes em direção ao teleférico que faria (verbo no futuro do pretérito) nossa descida até o porto onde devíamos pegar o barco auxiliar. Antes de chegarmos no teleférico propriamente dito, encontramos a sua fila pelo caminho. Aquela fila de comprar fichas na festa junina que acontece no Maracanã.

Como uma brasileira raiz, entrei na fila e a Glenda foi tentar chegar na frente para descobrir pra que raios ela servia. Depois de certo tempo, ela volta com a confirmação de que era para o bondinho sim, porém ela não conseguiu ao menos chegar no início da maldita, e nem encontrar parentes nossos pelo caminho (brasileiras extreme). A pior parte foi ela dizer que perguntou a uma pessoa que já estava bem lá na frente a quanto tempo ela estava esperando, e a resposta não foi nada animadora, era cerca de 1h e pouco...ou seja, caso ficássemos na fila, com certeza perderíamos o navio.

Depois do semi desespero, lembrei da estradinha sinuosa que fazia essa ligação de baixo-para-cima-do-morro-e-vice-e-versa. Perguntamos aos logistas quanto tempo levava a descida (até porque pra baixo todo santo ajuda) e nos informaram que era uma média de 30 min. Apesar do sol sem camada de ozônio que fazia, era nossa única opção. 

Fomos então ao início da estradinha, inclusive era um início muito digno, com muitos restaurantes e uma vista de arrasar, deu tempo até de bater uns retratos. Logo no início, passamos pelo que parecia um mini terminal rodoviário de jumentinhos, com abordagens dos "motoristas" querendo vender bilhetes dos seus "transportes", muita gente subindo, muita gente descendo da carcunda dos bichíneos. Nos olhamos e nossos olhares dialogaram: "Não mesmo, coitados dos bichinhos, não precisamos disso. Temos 2 pernas aqui pra isso!". Desviamos do caos rodoviário e seguimos a descida. 

Vale dizer que era uma estradinha sinuosa para pedestres e jumentinhos, o piso era tipo uns degraus largos de um material extremamente liso, tal qual uma pedra sabão. E não bastasse o volume de gente subindo e descendo, ainda tínhamos que nos preparar a cada 5 min para os gritos de pessoas avisando (ou sendo atropeladas) pela carreta de jumentinhos descendo ou subindo nesse mesmo espaço físico. Nessas horas você tinha que se jogar para um dos lados da escada como se não houvesse amanhã. 

Tudo começou mais ou menos nesse cenário descrito, até que começou a ficar pior. O sol estava literalmente desértico, as pessoas pelo caminho iam passando mal, e quando não caiam porque escorregavam, caiam porque passavam mal...principalmente os mais idosos e deficientes (sim, tinha gente assim fazendo isso). Virava e mexia passava um grupo carregando alguém semi desmaiado, e tudo isso em meio ao sobe e desce dos jumentinhos (era tipo a manada de rinocerontes de Jumanji). 

A gênia aqui, com uma cirurgia recente de joelho, no início tava de boa, e depois de 5 minutos estava morrendo de tanto forçar o joelho "são", além de estar com uma sandália maravilinda para escorregar e se sujar. Detalhe: acrescente nessa estradinha do inferno porções generosas de dejetos jumentícios por todo o caminho. Era aquele cheiro de fazenda amadeirado enfiado no seu nariz que tornava a tarefa um pouco mais complicada para a menina da cidade aqui...achei que fosse chegar as vias de fato no sentido de "refluxo" a todo momento. 

Muita coisa aconteceu ali naqueles 40 minutos de descida, a Glenda se queimou inteira pois não passou protetor solar, eu ferrei os joelhos, fiquei traumatizada com os acidentes com pessoas escorregando e caindo de cabeça, sangue e sujeira nas roupas, aquele cheiro insuportável, uma sede desértica, a assombração de ser atropelada pelos jumentos, o medo de quebrar as cerâmicas que carregava nas sacolas, o temor de minha mãe e tias terem feito essa saga, o receio de perder o navio...

Só lembro de a cada 2s gritar: "Gleeenda, tá chegando?" e ela responder irresponsavelmente: "Simmm...". Só que era mentira, ela só tava tentando me estimular a não padecer pelo caminho. 

Olha...tudo não a ver com essa ilha maravilhosa. Foi uma péssima despedida ficar com o cheiro impregnado até o cabelo, de ir tomar banho e sentir aquele aroma em cada centímetro do corpo.

Depois de tudo a Dica de Ouro 3 é não conhecer a estradinha hardcore de Santorini. Chegue com antecedência no teleférico e desça com dignidade e sua tacinha de champagne na mão.

Observação 1: quando chegamos no navio todo mundo tava lindo e pleno saboreando as melhores lembranças ever (desceram pelo teleférico) e nós, as debandadas do lixão, ainda tendo flashs inconscientes da nossa highway to hell santoriana.

Observação 2: esse esquema só funciona até hoje porque ainda existem pessoas que pagam pelo transporte em cima dos burrinhos, por algum motivo, devem achar charmoso fazer a tal descida. Que tal pensar mais nessas atitudes "inocentes" quando somos turistas? Os coitados dos animais sofrem muito porque o sol é escaldante, o trabalho não para nenhum dia e sabe Deus por quantas horas.

Observação 3: deveríamos ter perdido o navio.

Atualizações:
Já conseguiram proibir que os coitadinhos dos burrinhos carreguem turistas obesos, o próximo passo é proibir que façam o trabalho. 



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