Caso: Esqueceram de mim em Miami
Dá Série Cuidado na Estrada!
Aline Mcallister |
Essa história é lendária na minha família e merece ser contada. Estávamos, vários integrantes da minha pequena família, em Miami para o casório da minha prima que mora lá. Cerca de 17 pessoas variando entre mulheres adultas, meninos e meninas (eu com 13 anos). Cabe salientar que, para mais da metade que estava ali, aquela era a primeira vez nos Estados Unidos e muito provavelmente, a primeira viagem internacional.
Felizmente, estávamos todos socados hospedados no apê da minha prima estrategicamente posicionado no downtown Miami: geral pira! Todos os dias saía essa galerinha para bater perna em todo perímetro do centro da cidade. As listas de desejos eram extensas e todo dia era dia de brincar de caça ao tesouro.
Entramos numa mega loja que vendia de tudo, de cadeiras de massagem a souvenirs de turista. A loja era tão grande que imediatamente todo mundo se escoou por seus departamentos e corredores. Quem tinha um objeto de desejo tratou de ir atrás das opções, quem não tinha, tratou de arrumar um rapidinho.
Minha mãe e minha tia finalizaram a compra de algumas malas. Lembro-me que pouco depois fui me divertir na ala dos perfumes. Olhei para o lado e, assim como eu, alguns primos e tias estavam lá borrifando perfume até na alma. Tranquilamente, me virei e continuei minha "viagem" pelas fragrâncias e frascos bonitos. E foi uma viagem mesmo, até um silêncio me rodeou me deixando muito mais à vontade.
Imersa no silêncio por muitos minutos, resolvi voltar para o mundo real e me agregar ao grupo de novo. Porém, sobretudo e no entanto, cadê todo mundo? Sai pela loja calmamente procurando a galera que provavelmente estava toda reunida encima de alguma novidade estadunidense. À medida em que a loja foi acabando e minha família não encontrada um leve desespero foi batendo em meu coraçãozinho.
Os passos aumentaram e os olhos foram dramaticamente se enchendo de lágrimas. Já tinha coberto e recoberto toda loja e estava constatado: fui sem piedade deixada para trás. Fui até o moço que vendeu as malas e perguntei pelo pessoal, ele disse que não tinha visto mais ninguém. Disse também que eu não me preocupasse pois estava com o endereço da minha prima, onde as tais malas seriam entregues. Ou seja, qualquer coisa eu seria despachada com as malas, sabe-se lá que horas e como, para a casa até o fim do dia. Só sacudi a cabeça dizendo que sim e minha vontade era de entrar mesmo logo dentro da mala da minha mãe (que ironia).
Fiquei lá bem pateta tipo muito minutos...intermináveis minutos, até que avisto minha Tia Eurídece vindo na minha direção como se fosse uma corda no abismo. Quase me pendurei no pescoço dela. Ela me levou até o grupo que já estava numa outra rua e com o foco em outra loja. E minha mãe no meio, com certeza sendo a líder. Cheguei e todo mundo me abraçou, inclusive minha mãe soltou a seguinte frase: "Essas coisas são assim mesmo na hora das compras...". Daí você tira, será que o povo fica doido em Miami?
Sondei o pessoal para descobrir o que tinha acontecido. Porque eu tinha ficado para trás daquele jeito? Não me amavam mais? E a versão que recebi foi:
(No meio do tumulto do grupo)
Tia Eurídece: Uai Naide, cadê a Aline? Ela não tá aqui não!
Naide (minha mãe): Uai, não tá não?
Tia Eurídece: Nãoooo!!!
Naide: Tão não sei, vai ver ficou para trás!
Foi nessa hora em que minha tia voltou por todo caminho percorrido e me achou do lado das malas, inclusive parecendo mais uma delas, esperando redenção. Foi nesse dia em que me tornei a lenda da família. Sabe quando você é o exemplo do problema? Pois é, fui considerada para todos o exemplo de postura de como proceder em situações como essa: não sair procurando as pessoas e ficar no lugar onde aconteceu o fato para ser achada. Também foram confeccionados bilhetinhos para todos com o telefone e endereço da nossa casa para o próximo que certamente iria ficar pra trás.
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