Caso: O Terminal....de trens na Alemanha
Da série Cuidado na Estrada!
Na cidade
de Dresden na Alemanha, exatamente a terceira cidade da viagem, eu e
minha prima adquirimos durante o dia nossos respectivos 3° volumes
bagágicos. Dessa vez, nosso hotel ficava próximo à estação de
trem, perto demais para irmos de carro e um bom tempo de caminhada. Pois bem, hora de ir embora da chuvosa Dresden, nosso trem
estava marcado para 19:01, decidimos fazer o trajeto hotel-estação
a pé pois tínhamos tempo de sobra, queríamos economizar sei lá 5
euros, e não sei aonde estavam nossas cabeças na hora da formulação
desse plano. Explicando melhor o contexto: cada pessoa tinha um
mochilão de 80 e 90 litros na coluna vertebral, a bolsa normal de
toda mulher, e mais 2 malas de rodinhas (uma em cada mão). O detalhe
é que uma das minhas malas já saiu do aeroporto com a alça
quebrada e ficava tombando para o lado de 5 em 5s, por sua vez, uma
das malas da Clarissa estava com “pé” quebrado e simplesmente, jamais, parou em pé.
Lá fomos
nós nessa linda caminhada até a estação. Eu parava em todas as
lixeiras para apoiar a mochila e tentar evitar a escoliose, além de
ter que ficar desembocando o tempo inteiro a mala chata que não
parava no eixo. Enfim, chegamos com tempo de sobra na estação, e já
nos dirigimos para a plataforma do nosso futuro trem. A minha tarefa
foi ir lá no Mc Donalds comprar nosso combo de nuggets, coca-cola e
batata frita, a da Clarissa, além de olhar as malas, era ficar de
campana no painel eletrônico que informava sobre os embarques. De
cara, uma de nós (sinceramente não lembro quem) já espatifou com o
saquinho de batatas no meio da plataforma, justamente ali onde o chão
era tão limpo que parecia um espelho. Depois de muito tempo paradas
ali no banquinho, e bem perto das tais 19:01, reparamos que a
plataforma estava muito vazia e o painel indicava que estávamos no
lugar certo. Na verdade esse painel estava no andar de baixo, e
só conseguíamos vê-lo nos debruçando no parapeito. Clima esquisito. Cadê
todo mundo?
A gente
sabe muito bem que o esquema dos trens é extremamente eficiente e pontual, então 5 minutos antes da hora marcada ele pára na
plataforma, todo mundo entra e sai, e salve-se quem puder. É mais ou menos isso. Escutamos
no serviço de som uma moça falando várias vezes uma mensagem que
nem Deus (que é brasileiro) entenderia, tudo em alemão. Faltando
cerca de 10 minutos para a chegada do trem, a Clarissa desceu para
ver direito o tal painel e subiu que nem um jato as escadas dizendo
que a plataforma tinha mudado e que era "hora de correr Forrest!". Na
velocidade da luz, catamos tudo e corremos enlouquecidamente pela
estação. Chegamos exatamente às 19:03, e pegamos só o rabinho
dele indo embora para Munique.
Pausa
para o choque! Isso não passou por nossas cabeças em nenhum momento
desde a concepção da viagem um ano antes ainda no Brasil. Eu só
pensava no tempo perdido na cidade de Munique. Falei “E agora meo?
E agora?”. Fomos no guichê da cia DB Bahn e uma senhora nos chamou na
fila, essa foi a hora que bicho pegou (1). Tentamos explicar o que
houve e ela não entendia nada e ainda balançava a cabeça brava
dizendo que não falava inglês. Eu fui ficando com vontade de
chorar, ela pegou nosso cartão de embarque e ficou lá olhando e
fazendo gestos negativos tipo “Fedelhas burras que não sabem
viver”. Eu queria dizer o número 13 que era a data do dia
seguinte, para dizer que queríamos o próximo trem que eu já sabia
que era só no dia seguinte. Quem disse que eu sabia? Que a Clarissa
sabia ou que meu ipod sem bateria sabia? Aliás, que raio de língua
é essa que até os números são infaláveis (13 em alemão é
“dreizehn”)?
Uma intervenção divina fez ela entender e sem muita troca de
comunicação, reimprimiu novos bilhetes sem nos cobrar nada por
isso. Confesso que, o que eu falei primeiro quando vi o trem partindo
foi “Ferrou, não tenho dinheiro!” (era só o 8° dia de viagem).
Tudo bem, tudo resolvido, menos a parte em que o tal trem só partia as
07:20 do OUTRO dia. Existiam duas opções: 1) voltar para o hotel e
comprar uma diária só para dormir mesmo, 2) ficar ali mesmo na
estação já que eram 20:00 e nosso trem saia cedinho no outro dia.
Raios,
raios...quem era o lider dessa excursão? Ficamos lá na estação.
Tinha uma lan house, ficamos nela até fechar para passar o tempo.
Ela fechou 22h. Conversamos de tudo que podia ser conversado, eu
escutei 3x todas as músicas do meu ipod e eram 22:25. A noite seria
longa até porque já estávamos loucas para sair de Dresden e chegar
logo em Munique. Arrumamos dois banquinhos estilo “A praça é nossa” e nos ajeitamos uma em cada banco. A estação é fechada
mas não tem climatização. Aos poucos as pessoas foram sumindo e
poucas luzes ficaram acesas. O frio? Foi ai que o bicho pegou (2). O frio descia
enlouquecidamente. Eu não arrumava um jeito confortavel de cochilar,
não tendo que estar tocando de alguma forma todas (estilo polvo) as minhas 4
bagagens para que ninguém as roubasse (kkkkkkkk).
O frio
castigou, eu enfiei a mão na mala e tudo que eu puxei, vesti.
Graças a Deus nem lembramos de fotos. O frio persistiu, então eu disse
com a boca tremendo: “Já chega Clarissa, vou abrir agora a mala e
pegar aquelas mini vodcas que comprei de souvenir e tomar tudo
agora!”, ela só respondeu “Pow, vodca pura eu não animo não”.
Poxa vida Jack, sobe logo nessa porta de madeira que cabemos nós
dois! Eu tentei me concentrar e voltar a ter consciência. Cochilamos
de novo. Do nada eu escuto vozes, uma conversa. Mas de quem? Só
falta a Clarissa falar dormindo. Foi ai que o bicho pegou (3). Eu abri o olho e procurei, no banco
do lado tinha um homem sentado mas caladinho. Eu voltei a dormir e de
novo as vozes. Abri o olho e o cara parava. E assim sucessivamente
por 15 vezes. Uma hora, eu abri o olho e tava minha prima
olhando para o cara e ele falando. Eu disse: “Ou, vocês tão
conversando? O que tá rolando ai?”, ela respondeu que claro que
não e que o cara era um doido falando sozinho. O maluco depois se
pirulitou, olhei o relógio e "já" era 00:05. Outra coisa crazy era
aguentar o povo saindo das baladas e passando pela estação
gritando, cantando, se pegando e olhando pra gente. Nessas horas eu
enterrava meu rosto com tudo na mala.
Simplesmente
a hora não passava. A gente ria pensando o que nossos pais iam achar
dessa gracinha. Coisas de gente meio sem noção mesmo, coisas da
gente. Mas deu tudo certo, nós sobrevivemos e depois disso
entendemos o porquê de não ver mendigo nenhum pelas ruas da
Alemanha. O frio trata de fazer a seleção natural de um por um.
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